sábado, 29 de agosto de 2009

Primeiro Hotel...


Primeiro Hotel de Torres
Hotel Familiar, de Adolpho Guilloux
Por João Barcelos da Silva


O catarinense Bernardino de Senna Campos (Memórias do Araranguá, 2ª Ed.) que além de telegrafista, tinha gosto pelo teatro e por viagens, era também simpatizante do espiritismo e fotógrafo amador. Foi como telegrafista das forças republicanas (mais de dois mil homens) que esteve em Torres pela primeira vez, aonde chegou “às 7 da noite do dia 18 de março de 1894...
...A Vila de Torres é pobríssima, e está situada em cima de uns rochedos junto ao mar...
Tem uma única rua, de Norte a Sul,...
Na estação de Torres, a qual estava instalada na primeira casa da Vila, ao Sul, com fundos para Lagoa, havia, como carteiro um bom pardo chamado Lourenço... VISTO NÃO HAVER HOTEL EM TORRES.” (grifo meu).
Em 8 de setembro de 1910, esteve em Torres com o grupo dramático da Sociedade União Araranguaense, conforme se vê em fotografia (de Maria Helena Lima) onde no verso consta também, carimbado: B. S. Campos phot. amador.
Em 1911, viajou a Porto Alegre... “no dia 13 de abril: Fui, neste dia visitar o Cemitério Público, onde depositei um cartão, em nome do Araranguá, no túmulo do Júlio de Castilhos, tendo o Jornal ‘Independente’ dado notícia deste fato.”
No retorno de Porto Alegre, 24 de abril pernoitou no hotel em Torres.
O cearense Carvalho de Lima (Ruy Ruben Ruschel, Torres No Começo Deste Século I Gazeta, 25/08/1995), que descreveu dois fuzilamento (Ruy Ruben Ruschel, Fuzilamento No Alto da Torre 1 e 2), ocorridos em 1894, na frente do cemitério que existia no alto do Morro do Farol, atual estacionamento, escreveu em 1901 que Torres tinha duas ruas, 120 casas, e mais ou menos, incluindo três lojas de fazenda, ferragens e molhados, uma estação telegráfica, uma agência de correio, uma escola pública e UM HOTEL. (grifo meu).
O Intendente João Pacheco de Freitas, que foi eleito pela primeira vez em 1901, e dominou direta ou indiretamente a política torrense, por mais de 20 anos, manuscritou em 1903, estatística hoje valiosa fonte histórica, que os historiadores não tem feito uso, menciona, Adolpho Guilloux em duas oportunidades: a primeira como 2º Avaliador Efetivo e a segunda, como Diretor Secretário do Clube Júlio de Castilhos.
Em 1911 João Pacheco de Freitas, que continuava Intendente, aparece em reportagem divulgatória, intitulada Viagem a Torres, contendo 11 fotografias com fins turísticos, no jornal Independente da Cidade de Porto Alegre. Entre as imagens destacam-se: a construção do primeiro farol de Torres; “Uma das praias de banhos, na Torre Norte”, a Prainha, em que aparece um grande grupo de pessoas, possíveis visitantes e “Passagem pelo portão da Torre do Centro” (Portão).
Por falar em Freitas, em 1913, existia em Torres uma Pensão Freitas, a qual estava situada onde hoje é o edifício Mediterrâneo, conforme aparece em fotografia do acervo do Centro Municipal de Cultura. Nesta fotografia, também aparece a “Gaiuta” da Estação Metereológica, inaugurado em 1913.
O historiador Ruy Ruben Ruschel, neto de José Antônio Picoral, pelo lado materno, afirma que com as manifestações iniciais de turismo, na década de 1910, funcionou na chamada Casa nº 1 o Hotel Riograndense, de João Matos, que hospedava banhistas vindos da Serra.
O pesquisador Roberto Venturella (A História do Farol de Torres, Age Editora, 2006) tem no mínimo 51% do mérito das informações do presente trabalho. Ele possui conhecimento de que Adolpho Guilloux apesar do nome nasceu na Itália em 1870, filho de Pedro Guilloux e Maria Justina Guilloux, era proprietário do Hotel Familiar, “na rua de baixo”, fundos para Lagoa próximo onde está hoje a Escola São Domingos, em 1911, e que casou em Torres em 1901, com Emma Müller. Em 1917, possuía um armazém em Porto Alegre, na rua Dr. Timóteo esquina com Cristovão Colombo e faleceu na capital em 1918, com 48 anos. Uma curiosidade é que José Antônio Picoral e familiares faziam refeições neste Hotel, a partir de 1913, quando começaram a veranear em Torres (escrito por Dalila Picoral Ruschel, filha de J. A. Picoral e mãe de R. R. Ruschel, Jornal Correio do Povo, 1969).
Existiu em Torres um segundo Hotel Familiar, de propriedade de outro italiano, chamado Ludovico Teló, que em 9 de setembro de 1922 hospedou os tripulantes do primeiro avião que posou em Torres, na Praia Grande, pilotado pelo capitão Diego Arocena, acompanhado do mecânico Artur Seabroock (R.R. Ruschel, Origens). A permanência deste avião em Torres está registrada no primeiro livro mencionado neste artigo, ilustrado com fotografia do primeiro Hotel Familiar, do Guilloux, com a legenda, Viajantes no início do Século.
Este segundo Hotel Familiar, o de Teló, também estava localizado na então “rua de Baixo”, mais ou menos de frente para o Bradesco. Ainda segundo Ruschel, em 1924, o mesmo Hotel hospedou um tal de Aureliano Amaro da Silveira (ou de Freitas), a pretexto de negociar madeira para Pelotas, sobre a falsa identidade de Amélio de Freitas. Esteve no hotel por três dias e depois seguiu para Colônia São Pedro para confabular com o líder oposicionista Chico Hertzog.
Esse segundo Hotel Familiar, de Teló, é o que se refere Guido Muri, em Relembranças de Torres, no capítulo segundo, na página 26: O Crime do Delegado. E o que Eduardo Festugato, em Torres de Antigamente, na página 104: O caso Zeló. O delegado envolvido no caso se chamava João Freitas de Oliveira e a mulher do hoteleiro Irene (ou Inês).
Pelo o até aqui exposto é razoável aventar-se a possibilidade de que o Hotel Familiar de Adolpho Guilloux é o primeiro hotel de Torres, o qual divulgava, em 1911, que seu estabelecimento na capital do estado onde além de outras informações, constava que é um “estabelecimento de longos anos, como se sabe o município de Torres vae sendo dia a dia mais visitado quer por touristes, quer por homens de negocios, devido ao notável desenvolvimento que está tendo, graças á sabia e activa administração do Intendente coronel João Pacheco Freitas - alma daquelle logar”.
De notar-se a importância do Intendente João Pacheco de Freitas na atividade turística hoteleira, mormente considerando que era compadre de José Antônio Picoral, que a partir de 1915-16 passaria adquirir importância no setor. Assim cabe perguntar quem é o pioneiro nesta área, qual o mais importante?
Para concluir, de “regalito”, a informação de que em meados da década de 1950 a cidade de Torres tinha quatro hotéis e quatro pensões, a saber, o Hotel Sartori, surgido na década de 1920 (recentemente demolido), o Farol Hotel no final da década de 20, o Cruzeiro Hotel no início dos anos 30 e o Hotel da Sapt, surgido no início dos anos 50. Os três primeiros localizado na “rua de cima” (Rua José Antônio Picoral). As Pensões eram a São José, de fronte ao Bradesco (onde foi o segundo Hotel Familiar, de Teló), a Pensão Bela Vista, onde está hoje o Banco do Brasil, a Pensão Primavera, dos Fadaneli, na Praça XV de novembro e a Pensão Neves, de Bento Chica, que tinha um famoso e atrevido macaco, na Avenida Rio Branco, próximo do edifício Zortea. Nesta época, a rodoviária era de fronte ao Banrisul e o Campo do Torrense, estádio da Lagoa ou dos Eucaliptos era de fronte ao Capesca.

Torres, 30 de outubro de 2007.

Endereço eletrônico:

(este é em homenagem a vinda de Martha Medeiros. Que vem a feira do livro em 24/27 de setembro de 2009... e nós: voltaremos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

vá com calma, mas não muita, a necessária para ler...
ver... comentar...