CEMITÉRIOS
E MISTÉRIOS
“E peço, quando eu/morrer/não me por em cemitério/existe
muito mistério”. Vitor Ramil/Gaudério/Ramilonga
No livro “Paróquia de Sombrio” o
Padre Raulino Reitz informa que um dos cemitérios da localidade de Espigão de
Barro foi inaugurado com a morte do primeiro rebelde “maragato”, Camilo Manoel
da Silva, que o autor do livro “Praia Grande –cidade dos canyons, 180 anos de
história”, apesar de citá-lo não sabe de quem se trata. Diz também o referido
sacerdote, na mesma obra, que a história da Paróquia de Sombrio foi iniciada
com a compra de uma sesmaria, 1820, por Manoel Rodrigues da Silva e seu irmão
Luciano, e que na mesma região de Espigão de Barro o pai de Manoel Rodrigues
foi retirado da cama de madrugada e morto pelos pica-paus, o que causou uma revolta
que se espalhou por toda a região, Rio Verde, Passo do Sertão e outras
localidades.
Da localidade de Tenente, cujo nome,
conforme o mesmo religioso, na mesma obra, está ligada a morte de um oficial
republicano em luta com os federalistas, até Praia Grande existem mais de dez
cemitérios, uma quantidade espantosa, levando-se em consideração a pequena
distância, relativamente, entre as duas localidades, trecho em que segundo
algumas pessoas ainda hoje se ouve, em noites enluaradas, junto a árvores antigas,
gritos de despedida: “Adeusssssss, meu Paiiiiiiii! Adeusssssss minha Mãeeeeee!”
A respeito é interessante citar o escrito “A Cidade das Águas - Torres-RS”, publicado na página central de
“Ler & Cia”, nº. 10, de janeiro de 2001, na parte referente à Lagoa do
Violão: “Conta-se que durante a revolução de 1893 alguns prisioneiros foram
degolados em suas margens. Isso era razão para os gemidos que diziam se ouvir à
noite”.
Nesta época, quando em Torres vivia o
poderoso, político e polêmico padre J. Lamônaco, que alguns insistem em grafar
“Lomônaco” ou “Lomonoco”, essa cidade possuía dois cemitérios: um oficial em
cima do Morro do Farol, em cuja porta aconteceram fuzilamentos, e outro
clandestino no sopé sul-serra do mesmo Morro, que Manoel Jausino e Ernani
Hoffmeister chamam de “cemitério velho” e o Dr. João Aires da Silva, grande
conhecedor de assuntos históricos e, principalmente, geográficos da região,
chama de “cemitério dos degolados”, local onde pessoas eram executadas. A
respeito é extremamente esclarecedor a informação de Jovina da Silva Coelho, de
quase 90 anos lúcidos, residente no Passo de Torres-SC, filha de José Rodrigues
da Silva Filho, neta de José Rodrigues da Silva, bisneta de Manoel Rodrigues da
Silva, sobrinha de outro Manoel Rodrigues da Silva, o maragato, irmã de José
Rodrigues da Silva Neto: a de que seu avó José Rodrigues da Silva foi preso em
Praia Grande e executado em Torres, sendo enterrado, por um parente chamado
Maneca Porto, nas areias da Praia da Cal, entre a Lagoa do Violão e o Morro do
Farol, a poucos metros, portanto, do chamado “cemitério dos degolados”.
Sobre as peripécias dos restos
mortais do polêmico padre de origem italiana e sobre a chegada de italianos na
região, que um escrito de Sombrio e vários de Torres, equivocadamente, afirmam
ter ocorrido antes de 1875, por razão de tempo e espaço, abordarei em uma
próxima oportunidade, se Aquilo que prefiro
chamar de “Sem nome” ou “Sem fim”, e que os vários grupos bíblicos
(monoteístas) chamam de Jeová (mosaístas), Deus (cristãos), Alá (maometanos),
que os védicos (e outro politeístas) conceituam de formas variadas, e que os
ateístas, sejam eles laoteseanos, confucianos, marxianos, krishnamurtianos e
etc., preferem não definir, assim o permitir.
Outubro de 2001
“O
SEQUILHO” REVISITADO
Falei com
pessoas de mais de 50 a quase 100 anos que de alguma forma conhecem o assunto.
Ainda não foi possível uma conclusão definitiva sobre o “Homem da Igreja São
Domingos”, que é evitado por estudiosos e pesquisadores, mesmo como “lenda”.
Uma dona de casa, quando saia do
Grupo Escolar Marcílio Dias, no Morro do Farol tinha muito medo de passar
próximo da igreja por causa do “Homem Seco”. O mesmo acontecia com uma
professora, hoje aposentada, ao passar próximo da sacristia da mesma igreja, por
causa do “Homem Ruim”.
Heitor M. Carneiro, irmão da minha
primeira professora (1951-53), afirma que mesmo acompanhado por um primo,
provavelmente antes de 1950, não teve coragem de encarar o “Homem Monstruoso”.
O mesmo aconteceu com um carpinteiro que na hora “H” fraquejou e não teve
coragem de entrar na peça em que estava o “Velhinho Seco”.
Um antigo balconista da Casa Oscar Raupp, hoje aposentado e
com mais de 70 anos, que nasceu e se criou a poucos metros da Igreja São
Domingos, com muito medo cansou de ver o caixão preto do falado “Homem Seco”,
juntamente com outros guris da época.
Outra pessoa, com quase 80 anos de idade, informa que viu o
“Ruindade” enrolado num couro, que chacoalhava como um porongo seco, o que o
sacristão dizia que se tratava do corpo de “Mané Rodrigues”, o qual vinha a ser
até parente do informante por parte de mãe.
A senhora Jovina da Silva Coelho, com quase noventa anos,
filha de José Rodrigues da Silva Filho, um dos comandantes maragatos da região,
neta de José Rodrigues da Silva, simpatizante maragato morto em Torres e
sepultado às pressas nas areias da Praia da Cal, entre a Lagoa do Violão e o
Morro do Farol, por tanto perto do cemitério “velho” ou “dos degolados”, e
bisneta de Manoel Rodrigues da Silva, falou-me: “dizem que o corpo do meu
bisavô está na Igreja São Domingos”.
Uma senhora, com quase 100 anos de idade, perfeitamente
lúcida, afirma que viu o “Homem Misterioso rejeitado pela natureza”, atrás de
uma cortina, dentro da Igreja São Domingos, por volta da segunda década do
século XX.
O padre Raulino Reitz na “História da Paróquia do Sombrio”
narra que Manoel Rodrigues, irmão de Luciano Rodrigues da Silva, proprietários
da Sesmaria dos Curralinhos, e genro de Manoel Ferreira Porto, foi sepultado na
primeira capela de Torres, juntamente com sua esposa, informação praticamente
confirmada por uma reportagem do jornal “Folha da Manhã” de Porto Alegre, em
1973, sobre restos mortais encontrado na frente do Farol Hotel.
O estudioso e pesquisador José Krás Selau, que tem conhecimento
do assunto do “Homem da Igreja” e afirma que Rui Ruben Ruschel também
tinha, no livro “Colônia de São Pedro –
Um pedaço da história”, informa que o Padre José Silva, por ser simpatizante do
Espiritismo, foi praticamente corrido de Torres em 1913, portanto 2 anos após a
morte do Padre Lomônaco, influente político local, governista, na virada dos
séculos XIX e XX.
Na torre da Igreja São Domingos, além da imagem de “Nosso
Senhor dos Passos”, existe outra imagem de Cristo, fora da cruz, conhecida por
“o Senhor Morto”. Além das imagens sacras, a referida torre, abriga, por dentro
e por fora, sem nenhuma indicação precisa, restos mortais humanos.
Embora os últimos dados escritos e último fato descrito,
todos facilmente verificáveis, lancem alguma luz sobre o mistério do “Homem
Seco” continuo com fortes razões para desconfiar que aquilo que o seu “Neném”,
pai do Adriano, conhecido do Heitor, vizinho do seu Ernani e de Antônio
Jausino, conhece por “o Sequilho”, tem
relação com a morte e sepultamento do simpatizante maragato, nas proximidades
do cemitério “velho” ou “dos degolados”.
A matéria terá desdobramentos.
Torres,
abril de 2001.
CEMITÉRIOS
Na
torre norte e suas imediações, ou o Morro do Farol como é mais conhecido, onde
se iniciou a cidade de Torres, existiram no mínimo três cemitérios.
O último, que foi desativado na
primeira metade da década de 1950, já existia em 1894, ano em que em sua porta
ocorreram no mínimo dois fuzilamentos, localizava-se exatamente no
“estacionamento” existente no alto do Ponto geográfico antes referido, de
frente para o mar.
O penúltimo, que segundo Ruy Ruben
Ruschel foi criado entre 1861/1862, e foi desativado após 1898, em razão da
invasão das areias, é também conhecido por “cemitério dos degolados”, conforme
informação do veterinário aposentado e médico atuante João Aires da Silva.
O ante penúltimo, ao que se sabe,
estava localizado próximo da SAPT, na frente do Farol Hotel, onde em 1973 foram
encontrados esqueletos do casal Cândida e Manoel Rodrigues da Silva, genro de
Manoel Ferreira Porto e pai de José Rodrigues da Silva. Seria este o cemitério
que ficou pronto juntamente com a Igreja de São Domingos, de que fala Francisco
de Paula Soares, quando estava para receber os imigrantes alemães, ou haveria
outro junto à mesma Igreja como afirmam alguns?
Fica, no mínimo, mais uma indagação:
não é muito cemitério para uma pequena localidade do século XIX, mesmo tendo
passado por duas revoluções sangrentas, em menos de seis décadas, a dos
farrapos e a dos federalistas?
De
se notar que as datas entre o fim do penúltimo (após 1898) e o início da
existência do último (1894), estão mais do que “apertadas”, para não dizer
incongruentes.
“INCURTURA
E INGNORANÇA”
“Jamais
conheci, em todo o Brasil, um povo e um lugar
tão atrasado como Torres”.
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